O sentimento do mundo
Não és tu —faculdade de sentir— um espaço
terminado por linhas ou superfícies
e não obstante chove sobre ti, na cidade,
as gárgulas sorriem contra a tarde,
a fadista tece com fio de algodão
as suas lembranças, chove nas gretas,
os antiguários mudam de residência
e os pássaros abrigam-se nos fechamentos,
agacham-se fatigadas as folhas amarelas.
E não estia, chove no molhado brando
da tua transparencia, teus labios.
E tudo aquilo que é dominio do coração
encolhe-se no lago, no lago do tempo.